sexta-feira, 9 de abril de 2010

Loucura normal

Normalidade é convenção social. O ser humano nasce, estuda, faz faculdade, casa, tem filhos, ajuda a criar os netos, morre. Quem não seguir o "roteiro normal" pode correr sérios riscos de ser classificado como louco. Pior: quem não pensa ou age de acordo com a maioria tornar-se-á insano assim que alguém perceber suas diferenças e "alterações" de comportamento. Há um sério risco nessa rotulação de pessoas. O risco de desumanizar o humano. A graça toda da nossa espécie está justamente na peculiaridade e importância de pensamentos e visões diferentes do mundo de cada um.

Galileu Galilei era louco. Por quê? Porque decidiram classificá-lo como tal. Afinal, o Sol gira em torno da Terra. Quem disser o contrário é louco, pronto. Definitivamente, normalidade é convenção social. Imagine então um homem solteiro que decide adotar uma criança dentro de uma sociedade loucamente conservadora. Esse vai ser doente mental completo. Por quê? Porque homem tem que construir família, ter filhos, netos. A loucura só é real quando prejudica alguém. Louco é quem mata, rouba, rasga dinheiro. Louco é quem rotula os outros e fere uma das coisas mais preciosas: a diversidade.

Rotulemos garrafas de refrigerante. Seres humanos são diferentes e têm que ser diferentens. É essa diferença que gera discussões sadias e provoca mudanças. Condenemos os loucos que matam. Condenemos os loucos de Brasília. Afinal, a Terra gira em torno do Sol e ser solteiro até a morte não tem nada demais. Ser triste, rotulado e um "zero à esquerda" na sociedade é que não pode. Façamos a diferença. Sejamos loucos diante dos verdadeiros loucos!

sábado, 3 de abril de 2010

Em processo de produção.

Estou trabalhando em alguns temas platônicos para publicar aqui nos próximos dias, ou semanas, ou meses. Enquanto isso, para deixar este blog menos abandonado, publicarei um texto de Martha Medeiros. Achei-o no site www.releituras.com. Visitem!

Enfim, acho que é isso. Com a palavra, Martha Medeiros:




35 anos para ser feliz

Uma notinha instigante na Zero Hora de 30/09: foi realizado em Madri o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo? Não sei. Mas gostei do resultado.

A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: "Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes". É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de tênis, um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.

Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 30 e sua vizinhança.

Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem: depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara.

Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.

Martha Medeiros (Outubro de 1998)